quinta-feira, 6 de maio de 2010

O COMEÇO DA LENDA... - PARTE IV


Da última vez em que vim aqui, estava falando de como os Mitos, as Lendas e os Folclores, na verdade são tão reais quanto a Coca-Cola geladinha que estou tomando. E claro, isso eu descobri através da história que testemunhei de perto, desde o berço do pequeno Sam... Como já contei, depois que a mãe dele, Juanita, matou o marido, o taxista José Soares, por este ter tentado assassinar Sammy, quando descobriu que o garoto não era exatamente comum, ela fugiu com o menino do Rio de Janeiro...

“E assim, a criança e a mãe viveram de cidade em cidade, de carro em carro e de escola em escola. Tudo bem, não foi apenas isso, claro que Juanita tinha uma certa preferência por Opalas e Fuscas, mas os carros sempre mudavam de cor e bem... O que costumava ensejar uma rápida mudança de endereço, era a velha mania do menino de assustar as pessoas, brincando de se metamorfosear no que queria, porque para ele aquilo era pura diversão, sabe, escutar sons e reproduzí-los, ver formas e copiá-las. E foi justamente isso, sua incapacidade de se controlar, de manter um disfarce, que fez com que eles não conseguissem se manter em cidade alguma por mais de duas semanas pelos cinco anos subseqüentes a morte do pai do menino, que finalmente, quando fez dez anos de idade, aprendeu um pouco sobre si e suas estranhas habilidades, o que permitiu que ele e sua mãe finalmente pudessem fixar raízes no Nordeste. Na completamente desconhecida cidade de João Pessoa.

Foi apenas lá que finalmente um dos inúmeros segredos que envolviam aquela família vieram à tona, pois antes disso a bela pantera espanhola se recusava a tocar no assunto com filho, supondo que o assustaria e que no caso do eminente perigo, quanto menos ele soubesse, melhor seria, mas tendo posto o jovem Sam em perigo mortal por no mínimo umas três vezes nos últimos meses que antecederam o decanato do garoto, ela decidiu que havia chegado o momento de falar a verdade: o carioca que Juanita havia matado não era o pai de Sam, era simplesmente um idiota qualquer que ela adotou como disfarce, para que aos olhos do mundo parecessem simples mortais, e para que o rastro dela e do pequeno fosse encoberto, de modo que os mitos, não os encontrassem e matassem.

- Como assim mitos mamãe?

- Sabe estas lendas que eu tanto contava para você, querendo fazê-lo ter medo do escuro e de estranhos, para que você sempre fosse cuidadoso, não se pondo em perigo?

- Sobre fantasmas, vampiros, lobisomens, bruxos e o Pé Grande?

- Sim! Bem, eles não são apenas mitos, ou pelo menos nem todos.

Deixando sua Coca-Cola sobre o balcão, para dar uma grande mordida no seu cheeseburger, o menino encarava a mãe como se ela estivesse falando sobre o clima, sobre o tempo, ou seja, não demonstrou a menor confiança ou interesse na conversa, mas como não queria aborrecê-la, perguntou como se estivesse interessado:

- Nós somos um deles?

Altamente ultrajada, ela respondeu:

- Desses? De modo nenhum Sam!

- Certo, e o que somos afinal? Quer dizer, eu vi num gibi, um personagem que adquiria formas, como eu, e ele era chamado de Metamorfo. É isso que nós somos?

- Bem, há alguns anos eu conheci uma jovem escritora, que estava fazendo pesquisas sobre lendas e paranormalidade na Inglaterra... E ela chamou as pessoas da nossa espécie de Transfiguradores. Meu avô costumava nos chamar de Transmutadores.

Agora comendo as batatas-fritas como se elas fossem desaparecer, ele perguntou:

- É isso então que somos? Mas por quê a senhora toma apenas uma forma e eu várias?

Olhando ao redor, como se temesse que alguém ali dentro da McDonald´s escutasse sua conversa, a bela espanhola respondeu no perfeito português sem sotaque que tinha:

- Porque eu encontrei a minha forma e você ainda não encontrou a sua. Quando somos pequenos, digo, as pessoas de nossa espécie, se transfiguram o tempo inteiro, em várias identidades diferentes, tentando encontrar seu eu interior. É como se testássemos habilidades até acharmos a correta.

- E com quantos anos a senhora descobriu que era uma Pantera Negra mamãe?

- Filho, você não precisa se preocupar com isso certo! Mas a verdade é que em geral, as crianças descobrem sua verdadeira identidade aos sete anos. Eu não sei porque, mas você é o primeiro em nossa espécie, que conheci, que já tem dez anos de idade e ainda pode adotar a forma que quiser.

- Então tem alguma coisa errada comigo?

Sorrindo como toda mãe gentil, que por vezes fica impressionada com a inocência dos rebentos, e pensando em como ele poderia pensar que tinha algo de errado com ele porque ainda não havia tomado sua forma definitiva, ao invés de pensar que era porque ele não era como as outras crianças humanas, ela disse:

- Evolução. Talvez isso seja evolução. As crianças em geral não tomam a forma que querem. Elas simplesmente tomam formas distintas, ao sabor do acaso, até descobrirem a sua. Mas você... você simplesmente toma a forma que quer. Só vamos descobrir a extensão de suas habilidades quando você estiver maior. E eu acho que seus poderes realmente são bem imprevisíveis, porque você desde bebê não se continha... Quando estava sonhando então, nem se fala, era um pandemônio de transfiguração.

Tendo bebido o resto do refrigerante, ele perguntou:

- E como meu pai não me via fazer isso? Porque aparentemente ele só começou a sacar o que eu sou, quando eu tinha cinco anos, ou seja, no dia em que ele morreu.

Ficando obviamente tensa, passando a mão nos olhos como se estivesse exausta com aquele assunto, ela o olhou seriamente e disse:

- João Soares não é o seu pai! O homem que eu matei naquele dia, era apenas um disfarce.

Preciso dizer que o menino engasgou com o refrigerante?"

Continua...

2 comentários:

  1. Rapaz, demorou mais saiu mais uma parte do conto, altas revelações, quero saber o significado dessas transfigurações do rapaz e o que ele é exatamente. no aguardo da continuação! abraços e boa semana

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  2. André, demorou porque eu andei um pouco sem ter idéias que prestassem, mas acho que a coisa agora tá indo na direção certa. Valeu a visita. Espero conseguir dar um bom rumo ao conto... Abraço e boa semana.

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