domingo, 17 de outubro de 2010

O COMEÇO DA LENDA... - PARTE VI


Escutar que seu pai matou o próprio irmão não é fácil para ninguém, descobrir que ele cometeu essa heresia para proteger você menos ainda, e por fim, ter conhecimento de que isso o levou a morrer, é simplesmente insuportável, principalmente para um garoto de dez anos de idade. Como eu venho explicando a vocês, nosso protagonista Sam, descobriu que toda esta selvageria encabeçava seu passado, e somando-se a isso ao fato de que ele era uma criatura mística, com poderes sobre-humanos, ele bem que poderia ter enlouquecido, afinal, fosse ele protestante, africano, um ET ou apenas um transfigurador híbrido, no fundo, ele não passava de uma criança. Mas ele até que lidou bem com isso tudo, diante das circunstâncias...

"Naquele dia, ele simplesmente levantou-se da mesa no McDonald´s e sem dizer uma única palavra, saiu para a rua... Sua mãe quis segui-lo, acompanha-lo e lhe dizer que tudo ficaria bem, mas Juanita entendia que o garoto precisava digerir aquilo sozinho, antes de conhecer o resto da história... Porque nada ficaria bem realmente, o passado não podia ser apagado ou modificado, e ele precisava refletir sobre aquilo tudo, para entender que cada ação sua, dali em diante, determinaria que tipo de pessoa ele seria...
- Meu Deus! Eu não entendo... Como... Como!?
- Você está bem filho?
Olhando meio confuso para a voz que vinha em sua direção, o garoto tirou a testa da árvore onde tinha se colado, como se esmagar a própria cara naquele tronco, fosse apagar seus pensamentos, e perguntou:
- O quê?
- Eu quero saber se você está bem?
- Eu acho.... Eu acho que sim! Eu não sei...
Sorrindo para o menino, a velha senhora se sentou na cadeira de plástico que carregava e olhando para o mar disse:
- Sabe, quando temos a sua idade, achamos que não entendemos porque algumas coisas acontecem... E às vezes achamos que entendemos porque tudo está como está.... Mas tenhamos a idade que tivermos, nunca saberemos de verdade...
Se sentando na areia, aos pés da cadeira da boa senhora, ele perguntou:
- Como é seu nome?
- Maria da Paz.
- A senhora tem um nome muito bonito!
- Quando eu tinha a sua idade, achava que era nome de gente velha...
- Mas tem um significado importante a senhora não acha?
- Tudo na vida tem meu filho! O que entendemos e o que não entendemos!
- E quando não entendemos o significado, o que fazemos?
- Aquilo que é certo! Você cumpre o seu papel, não importa se você se sente mal com isso ou não... Você simplesmente aprende a fazer o que é certo e faz, mesmo que não entenda o significado... Mesmo que você esteja sofrendo... Ou que esteja feliz....
- Se tudo tem um significado, porque eu não entendo como as coisas chegaram ao ponto em que estão?
- Um dia você vai entender, e neste dia você vai pensar em como foi cego por não ter entendido... E aí, no outro dia, você vai achar que entendeu errado... Nunca dá pra ter certeza absoluta, mas se você sente que fez o que é certo, o resto não importa....
- Isso quer dizer que sendo culpa minha ou não, eu devo crescer e fazer o que é certo?
- É mais ou menos isso... É como a semente da flor, geneticamente você entende como ela germina, cresce e floresce, mas essa é a única razão dela estar lá? Provavelmente não. E mesmo que nunca entendamos as razões, sentimos que no fundo o correto é protegermos sua beleza, sua constituição frágil e indefesa. Não importa o que a levou a nascer e a crescer, ou melhor importa sim... Porque sem isso, ela não estaria ali, estaria?
- A senhora é bem cheia de metáforas não é?
Sorrindo de um modo conspiratório, ela perguntou:
- Quer saber uma coisa engraçada?
- O quê?
- Na sua idade eu nem sabia o que significavam as metáforas!
Dando o primeiro sorriso sincero do dia, Sam se levantou e disse que ia embora. Mas antes perguntou:
- A senhora mora aqui?
Apontando para uma casa branca do outro lado do asfalto, na praia do Cabo Branco ela respondeu:
- Sim! Logo ali...
- E por que a senhora veio falar comigo?
- Porque você parecia precisar disso...
- Engraçado, a senhora se chama Paz e estamos na praia do Cabo Branco...
- Você vê um significado nisso e eu vejo outro, mas mesmo com significados distintos, estamos aqui não é?
- É!
Apreciaram então um pouco o silêncio, e no momento de partir, Sam perguntou:
- Eu posso vir visitá-la?
- Sempre que quiser!
E ali, nasceu uma estranha amizade, entre uma humana completamente desconhecida, mas bem sábia, e um híbrido jovem e confuso, mas maduro e que não pretendia fugir dos seus problemas e deveres... E assim, o garoto caminhou pela calçada que havia percorrido, atravessou o asfalto e chegou ao McDonald´s onde Juanita, sua mãe, pacientemente o esperava para juntos seguirem o curso da vida que os aguardava..."

Continua...

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O COMEÇO DA LENDA... - PARTE V


A vida nunca é simples como quando nascemos, porque cá entre nós, quando nascemos, apenas temos que mamar, dormir, tomar banho e todas essas coisas bestiais que bebês fazem, mas Sam realmente aos dez anos de idade, percebeu que a vida já não era um mar de rosas... No fundo, ele percebeu que entre o cair da máscara e o longo caminho que temos que trilhar, há muita escuridão... E continuando de onde parei, volto a contar como o garoto que me provou que lendas e mitos, muitas vezes são mais que meras lendas e mitos começou a descobrir quem era... Sua mãe começou a lhe explicar que não assassinou seu verdadeiro pai, mas sim um falso pai...Um pai de criação, digamos assim...

“- Você o matou mamãe?
- Você realmente não se lembra?
- Mais ou menos. Eu tenho uns flashs de vocês brigando e dele em cima de mim, mas não lembro direito o que aconteceu...
- Um dia você vai lembrar Sam, e eu sei que isso vai doer, mas ele não era o seu pai, então com o tempo, passará a doer menos...
Sem vontade mais de comer, o garoto ficou em silêncio e a mãe encarou isso como permissão para continuar a explicar o que ele devia saber...
- Eu o conheci quando cheguei ao Brasil, desamparada, carregando você no colo, angustiada com a morte do seu pai e com muito medo de que nos encontrassem, porque eu não sabia como protegeria você da fúria dos Mitos... Ele era um taxista ignorante e grosseiro, fez uma corrida nos levando para um hotel na Barra da Tijuca e percebendo que eu estava nervosa, chorosa e paranóica, perguntou se podia me ajudar. Não foi fácil para ele tentar me entender, afinal, não passava de uma turista louca, com febre e com um bebê nas mãos. Mas ele me ajudou de verdade, sem pedir nada em troca, pelo menos não naquele momento...
- Ele... a ajudou? Como assim?
- Eu não esperava realmente ter que te contar isso, mas agora é necessário! Naquele dia desmaiei dentro do carro, na hora de descermos no hotel... Ele colocou você preso em uma cadeira de bebê que tinha na mala e me levou para o hospital. Lá eles ministraram antibióticos em mim, porque eu estava com uma infecção que adquiri no seu parto e que se alastrou por falta de cuidados médicos. Eles, os médicos, nem sabiam como eu continuava viva...
- Então quer dizer que não podemos nos curar, como os lobos fazem?
- Como eu disse, somos transfiguradores, não criaturas imortais Sam! E você... você é diferente.
- Como assim?
Tomando um pouco d´agua, ela explicou:
- Você é um híbrido. Seu pai não era um transfigurador e ele podia se curar, você herdou isso dele.
- Mas quando eu me corto, sangro. E tenho marcas no corpo...
- Sam, quando o que está lhe causando o ferimento cessa, você se cura sozinho. É assim que funciona. Por exemplo, se você se cortar com uma faca, já deve ter notado, que a sua pele se recupera sozinha rapidamente. Mas se a faca ficar presa em sua pele, você pode sangrar até a morte.
- Eu pensei que com todo mundo fosse assim....
- Não é não! Eu levo dias para me recuperar, não percebeu?
- Então... como meu pai morreu?
Dando um suspiro, como se aquela lembrança ainda lhe doesse muito, olhando para o horizonte, como se tentasse visualizar aquela cena, ela praticamente sussurrou:
- Lutando, para salvar a minha vida e a sua. Matando o próprio irmão!”


Continua...

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O COMEÇO DA LENDA... - PARTE IV


Da última vez em que vim aqui, estava falando de como os Mitos, as Lendas e os Folclores, na verdade são tão reais quanto a Coca-Cola geladinha que estou tomando. E claro, isso eu descobri através da história que testemunhei de perto, desde o berço do pequeno Sam... Como já contei, depois que a mãe dele, Juanita, matou o marido, o taxista José Soares, por este ter tentado assassinar Sammy, quando descobriu que o garoto não era exatamente comum, ela fugiu com o menino do Rio de Janeiro...

“E assim, a criança e a mãe viveram de cidade em cidade, de carro em carro e de escola em escola. Tudo bem, não foi apenas isso, claro que Juanita tinha uma certa preferência por Opalas e Fuscas, mas os carros sempre mudavam de cor e bem... O que costumava ensejar uma rápida mudança de endereço, era a velha mania do menino de assustar as pessoas, brincando de se metamorfosear no que queria, porque para ele aquilo era pura diversão, sabe, escutar sons e reproduzí-los, ver formas e copiá-las. E foi justamente isso, sua incapacidade de se controlar, de manter um disfarce, que fez com que eles não conseguissem se manter em cidade alguma por mais de duas semanas pelos cinco anos subseqüentes a morte do pai do menino, que finalmente, quando fez dez anos de idade, aprendeu um pouco sobre si e suas estranhas habilidades, o que permitiu que ele e sua mãe finalmente pudessem fixar raízes no Nordeste. Na completamente desconhecida cidade de João Pessoa.

Foi apenas lá que finalmente um dos inúmeros segredos que envolviam aquela família vieram à tona, pois antes disso a bela pantera espanhola se recusava a tocar no assunto com filho, supondo que o assustaria e que no caso do eminente perigo, quanto menos ele soubesse, melhor seria, mas tendo posto o jovem Sam em perigo mortal por no mínimo umas três vezes nos últimos meses que antecederam o decanato do garoto, ela decidiu que havia chegado o momento de falar a verdade: o carioca que Juanita havia matado não era o pai de Sam, era simplesmente um idiota qualquer que ela adotou como disfarce, para que aos olhos do mundo parecessem simples mortais, e para que o rastro dela e do pequeno fosse encoberto, de modo que os mitos, não os encontrassem e matassem.

- Como assim mitos mamãe?

- Sabe estas lendas que eu tanto contava para você, querendo fazê-lo ter medo do escuro e de estranhos, para que você sempre fosse cuidadoso, não se pondo em perigo?

- Sobre fantasmas, vampiros, lobisomens, bruxos e o Pé Grande?

- Sim! Bem, eles não são apenas mitos, ou pelo menos nem todos.

Deixando sua Coca-Cola sobre o balcão, para dar uma grande mordida no seu cheeseburger, o menino encarava a mãe como se ela estivesse falando sobre o clima, sobre o tempo, ou seja, não demonstrou a menor confiança ou interesse na conversa, mas como não queria aborrecê-la, perguntou como se estivesse interessado:

- Nós somos um deles?

Altamente ultrajada, ela respondeu:

- Desses? De modo nenhum Sam!

- Certo, e o que somos afinal? Quer dizer, eu vi num gibi, um personagem que adquiria formas, como eu, e ele era chamado de Metamorfo. É isso que nós somos?

- Bem, há alguns anos eu conheci uma jovem escritora, que estava fazendo pesquisas sobre lendas e paranormalidade na Inglaterra... E ela chamou as pessoas da nossa espécie de Transfiguradores. Meu avô costumava nos chamar de Transmutadores.

Agora comendo as batatas-fritas como se elas fossem desaparecer, ele perguntou:

- É isso então que somos? Mas por quê a senhora toma apenas uma forma e eu várias?

Olhando ao redor, como se temesse que alguém ali dentro da McDonald´s escutasse sua conversa, a bela espanhola respondeu no perfeito português sem sotaque que tinha:

- Porque eu encontrei a minha forma e você ainda não encontrou a sua. Quando somos pequenos, digo, as pessoas de nossa espécie, se transfiguram o tempo inteiro, em várias identidades diferentes, tentando encontrar seu eu interior. É como se testássemos habilidades até acharmos a correta.

- E com quantos anos a senhora descobriu que era uma Pantera Negra mamãe?

- Filho, você não precisa se preocupar com isso certo! Mas a verdade é que em geral, as crianças descobrem sua verdadeira identidade aos sete anos. Eu não sei porque, mas você é o primeiro em nossa espécie, que conheci, que já tem dez anos de idade e ainda pode adotar a forma que quiser.

- Então tem alguma coisa errada comigo?

Sorrindo como toda mãe gentil, que por vezes fica impressionada com a inocência dos rebentos, e pensando em como ele poderia pensar que tinha algo de errado com ele porque ainda não havia tomado sua forma definitiva, ao invés de pensar que era porque ele não era como as outras crianças humanas, ela disse:

- Evolução. Talvez isso seja evolução. As crianças em geral não tomam a forma que querem. Elas simplesmente tomam formas distintas, ao sabor do acaso, até descobrirem a sua. Mas você... você simplesmente toma a forma que quer. Só vamos descobrir a extensão de suas habilidades quando você estiver maior. E eu acho que seus poderes realmente são bem imprevisíveis, porque você desde bebê não se continha... Quando estava sonhando então, nem se fala, era um pandemônio de transfiguração.

Tendo bebido o resto do refrigerante, ele perguntou:

- E como meu pai não me via fazer isso? Porque aparentemente ele só começou a sacar o que eu sou, quando eu tinha cinco anos, ou seja, no dia em que ele morreu.

Ficando obviamente tensa, passando a mão nos olhos como se estivesse exausta com aquele assunto, ela o olhou seriamente e disse:

- João Soares não é o seu pai! O homem que eu matei naquele dia, era apenas um disfarce.

Preciso dizer que o menino engasgou com o refrigerante?"

Continua...

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O COMEÇO DA LENDA... - PARTE III



E voltando a contar como comecei a descobrir que nem todas as crianças são normais como se imagina, que lendas são mais que lendas, e como a morte pode nos rodear sem que percebamos, de um modo ou de outro sempre nos cercando como se fôssemos vítimas estúpidas irracionais, retomo a história de uma cena clichê que se transformou em um roteiro original de horror e de drama familiar...

"A criança começou a sentir muita raiva, muita raiva mesmo com a agressão que sua amável mãe sofria, e naquele momento desejou ser grande e forte como seu boneco Hulk, pois aí obrigaria seu pai a não machucar sua mãe... Então, de repente, começou a sentir um formigamento nas pernas, nas mãos, um calor irradiando por todo o seu corpo e umas pontadas na cabeça, então, antes que percebesse que havia largado os bonecos no chão, e que como no filme do seu herói, toda a sua roupa estava se rasgando enquanto mudava de forma, notou que estava maior que o pai. Ele não entendia nada direito, mas viu que a mãe já estava desmaiada... e, puxou o pai pelo ombro com muita força, o jogando contra a parede. A mãe escorregou para o chão, mas ele a segurou nos braços e sem ter discernimento sobre o que se passava, viu que aquela não era mais sua mãe, pois ele tinha nos braços fortes e verdes, uma pantera incrivelmente negra, coberta pelo velho vestido floral que sua mãe antes trajara.


A pantera abriu lentamente os olhos, enquanto a criança verde e forte sentava vagarosamente no chão a segurando e antes que o menino pudesse esboçar alguma reação, a pantera com um rosnado ensurdecedor, simplesmente pulou em cima do pai do garoto, que estava em pé logo atrás deste e com um facão na mão. A pantera mordeu a garganta do homem com uma violência perigosa e amedrontadora, ao mesmo tempo, encravou unhas longas e fortes no peito do homem e puxando as patas, rasgou seu peito, o que fez com que jorrasse muito sangue e o homem desse um desses gritos cheios daquele desespero e agonia que costumam anteceder uma morte dolorosa. Não houve tempo para defesa. O homem não chegou a lutar com o animal, pois além de estar fraco, foi pego de surpresa. A pantera simplesmente continuou a morder seu pescoço com uma violência ilógica, o dilacerando, repetidas vezes, e então, após alguns minutos e várias mordidas, percebeu que o homem já não respirava. Ele havia morrido. E a pantera, como boa predadora, comeu a carne do pescoço do homem, de maneira lenta, como se apreciasse algum tipo de manjar vitorioso. Havia em seu olhar uma satisfação grande, inteligente e ao mesmo tempo muda, afinal, eram apenas olhos de um animal.


O garoto que a tudo olhava, já havia retomado sua forma anterior, sem sequer perceber suas transformações por completo ou que estava seminu, mas estava muito assustado. Na verdade ele tremia de medo. Nunca quis a morte do seu pai. Queria apenas que ele não batesse mais em sua mãe. E de repente... tudo havia ficado confuso. Onde estava sua mãe?A pantera ia machucá-lo? Ela não parava de fitá-lo, e começou a caminhar em sua direção. Ergueu a cabeça e olhou para o alto, como se estivesse de lembrando de algo, então, deu alguns passos para trás, começou a esfregar o focinho e a boca na calça do homem morto, como se estivesse se limpando e em seguida, olhou para o garoto seriamente e partiu para o corredor...


O menino só pensava em sua mãe, quando esta de repente apareceu no quarto, enrolada em uma toalha, e caminhando em sua direção, o pegou no colo cobrindo-o com uma toalha branca que trazia nas mãos, disse:


- Está tudo bem Sam. Ele não pode mais nos fazer mal.”

Continua...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O COMEÇO DA LENDA... - PARTE II



Na última vez em que conversamos eu contava como descobri que lendas não são apenas lendas, e que em muitas ocasiões pertencem a nossa realidade, mas tolos que somos, crescemos sem prestar atenção de verdade ao que nos cerca e passamos a ter certeza de que nada daquilo existe de verdade. Mas cá entre nós e entre o povo da rua, nunca ter testemunhado um homicídio significa que ele inexiste? Meu irmão nunca ter conhecido pessoalmente o grupo de patrocinadores que ajuda a manter os bandidos que pertencem ao seu povo... e de uma certa o mesmo povo ao qual pertenço, não significa que seja um grupo que não existe... Cara, eu nunca vi Deus, mas isso não significa que Ele seja apenas uma lenda... Enfim, o ser humano acredita no que quer... eu atualmente, acredito no que vejo... de todo modo vou continuar a narrar a história que eu estava contando quando nos encontramos da última vez... talvez a partir daí o resto da minha história tenha alguma lógica para você...



“Pode-se dizer que o garotinho repetir a frase do pai com a voz idêntica a do velho, como se estivesse zombando dele foi o estopim, e o homem ensandecido que ficou, simplesmente pulou em cima do garoto, apertando seu pescoço com o óbvio intuito de enforcá-lo. A criança começou a ficar descontrolada, e então, mudou de forma. Sua pele ficou negra, verde, azul, seus olhos também mudavam de cor e ele segurava debilmente a mão do pai que estava com um aperto cada vez mais forte. Ele não conseguia respirar, já havia soltado a colher há algum tempo e não sabia que era capaz de ferir o pai. Provavelmente nem teria vontade de fazer isso, afinal, era apenas uma criança. Mas quando já não era mais capaz de mudar de forma, e estava desmaiando, após um barulho meio seco em cima de seu pai, simplesmente o aperto em seu pescoço cessou. O velho desabou desmaiado em cima dele, e a mãe, então, o tirou do chão e o pondo no colo, disse:


- Sam, inspira e expira. Puxa o ar pelo nariz e solta pela boca. Vamos, eu sei que você consegue! Vamos Sam.


Quando o garoto ficou mais calmo, já era a mesma criança bela e saudável de antes e então começou a observar a cabeça do pai que jazia desmaiado no chão, sangrando. A mãe percebendo isso falou:


- É eu sei. Mas ele vai ficar bem! Nós é que temos que sair daqui agora. Vamos.


Segurando o garotinho no colo, ela subiu as escadas rumo ao quarto para fazer uma mala para ele e outra para si. O menino sentado na cama olhando tudo perguntou:

- Nós vamos viajar mamãe?

- Sim meu amor. Vamos fazer uma viagem longa.


Sem entender direito, o menino perguntou:


- O papai vai?

- Não!

- Por que ele pulou em mim mamãe?

- Porque ele é mau! Muito mau!

- Ele vai com a gente?


- Não! De jeito nenhum! Nunca mais o veremos!


Assim ela partiu para o próprio quarto com o menino em seu encalço e começou a fazer a própria mala. O garotinho decidiu perguntar:


- Mamãe, o Pokémon e o Hulk podem ir com a gente?


- Sim. Pode pegá-los no banheiro! Mas seja rápido!

Quando o menino voltou para o quarto da mãe, o pai estava lá e a segurava pelo pescoço. Ele devia gostar de um pescoço! Mas o menino não entendia a razão... apenas compreendeu que a mãe ia morrer... seu olhar era de súplica, desespero, ela ficou gesticulando para ele com a mão, dizendo que fosse embora, mas ele não entendia... Aproximou-se dos dois e chutou a perna do pai. Foi algo que não teve o menor impacto. O pai além de segurar sua mãe pelo pescoço com uma força exagerada, deu duas tapas em sua face, arrancando sangue de seus lábios e lhe deixando marcas. E a mãe começou a desmaiar. Os braços já não tinham tanta força. Ela implorava ao marido...


- Por favor. Não o mate! Ele é apenas um garoto! Por favor...”

Continua...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O COMEÇO DA LENDA... - PARTE I



"A inocência foi violada em um momento inesperado.
E o que restou? O perigoso medo do desconhecido..."

Sinceramente, acho que a coisa mais idiota que pode acontecer, é alguém ser cretino o suficiente para supor que sabe de tudo e que bem... nenhuma verdade pode ser abalada. Como eu aprendi isso!? Ah, essa é fácil... tendo sido cretino também! Mas claro que naquela época eu era uma criança, então, ora bolas, tudo se torna um pouco menos patético do que se fosse algo que houvesse acontecido ontem ou hoje, por exemplo.



Do que estou falando? Certo, não dei muitos indícios ainda, então, tentarei ser mais objetivo e menos dúbio! Estou me referindo às criaturas da noite... sabe aquelas lendas bonitinhas que faziam até sua medula arrepiar quando você era pequeno? Pois bem, aquelas historinhas de terror que seu irmão mais velho contava para te assustar antes de você ir dormir, e que te faziam fugir de filmes do gênero, como o Diabo costuma fugir da Cruz (Algo que até hoje não sei se é verdade ou apenas um ditado popular, mas enfim.), não são meras lendas. Não mesmo, eles realmente existem. Todos eles, ou pelo menos, boa parte deles. Claro que não são como nos mitos, nas lendas, não, para ser honesto, eles são piores, bem piores. Piores, porque afinal, são reais.



Descobrir que existiam não é a pior parte, e sim, que tudo aquilo que eu temia e odiava depois que descobri a existência destes seres, é justamente uma parte de quem eu sou, ou melhor, do que eu sou. Mas esta parte fica mais para frente... Vamos começar pelo começo, talvez assim eu seja compreendido...



Imagine uma cena clássica, dessas que até certo ponto são para lá de entediantes...


“Em um apartamento típico de classe média alta do Rio de Janeiro, em 11 de novembro de 1989...


Um garotinho está sentado em uma cadeira, pronto para jantar, enquanto sua bela mãe prepara o resto da comida na cozinha, e seu pai lê calmamente o jornal... De repente o velho pai com sua voz grave, forte, e até certo ponto rústica, pergunta à esposa em alto e bom tom:




- Juanita, cadê o jantar mulher!?




O garotinho gosta daquela voz, ele acha que é uma voz que impressiona, e brincando com a colher de prata que segura na mão e para a qual fica olhando distraidamente, repete:




- Juanita, cadê o jantar mulher!?




A mãe responde:




- Tenha calma João, eu já estou chegando. Me deixe terminar de colocar o bife na travessa!




Até aí nada demais, certo!? Errado. Muito errado. O velho pai baixa o jornal, arqueia uma sobrancelha seriamente e achando que está um pouco surdo ou louco, encara o garotinho e pergunta:




- Sam, o que você falou garoto?




Olhando para o pai, e sem entender direito a expressão deste, ele repete a pergunta:




- Juanita, cadê o jantar mulher!?




A mãe reclama novamente, que os homens são iguais, impacientes e intolerantes. Possivelmente não teria nada de errado nesta cena, com exceção de uma única coisa. O pai solta o jornal na mesa, levanta-se fazendo em nome do pai e encarando o filho com olhos esbugalhados, brada:




- Este garoto está endemoniado! Como conseguiu repetir meu tom de voz? Ele tem apenas cinco anos!




O garoto alheio à realidade repete no mesmo tom do pai:




- Este garoto está endemoniado! Como conseguiu repetir meu tom de voz? Ele tem apenas cinco anos!"

Continua...