domingo, 17 de outubro de 2010

O COMEÇO DA LENDA... - PARTE VI


Escutar que seu pai matou o próprio irmão não é fácil para ninguém, descobrir que ele cometeu essa heresia para proteger você menos ainda, e por fim, ter conhecimento de que isso o levou a morrer, é simplesmente insuportável, principalmente para um garoto de dez anos de idade. Como eu venho explicando a vocês, nosso protagonista Sam, descobriu que toda esta selvageria encabeçava seu passado, e somando-se a isso ao fato de que ele era uma criatura mística, com poderes sobre-humanos, ele bem que poderia ter enlouquecido, afinal, fosse ele protestante, africano, um ET ou apenas um transfigurador híbrido, no fundo, ele não passava de uma criança. Mas ele até que lidou bem com isso tudo, diante das circunstâncias...

"Naquele dia, ele simplesmente levantou-se da mesa no McDonald´s e sem dizer uma única palavra, saiu para a rua... Sua mãe quis segui-lo, acompanha-lo e lhe dizer que tudo ficaria bem, mas Juanita entendia que o garoto precisava digerir aquilo sozinho, antes de conhecer o resto da história... Porque nada ficaria bem realmente, o passado não podia ser apagado ou modificado, e ele precisava refletir sobre aquilo tudo, para entender que cada ação sua, dali em diante, determinaria que tipo de pessoa ele seria...
- Meu Deus! Eu não entendo... Como... Como!?
- Você está bem filho?
Olhando meio confuso para a voz que vinha em sua direção, o garoto tirou a testa da árvore onde tinha se colado, como se esmagar a própria cara naquele tronco, fosse apagar seus pensamentos, e perguntou:
- O quê?
- Eu quero saber se você está bem?
- Eu acho.... Eu acho que sim! Eu não sei...
Sorrindo para o menino, a velha senhora se sentou na cadeira de plástico que carregava e olhando para o mar disse:
- Sabe, quando temos a sua idade, achamos que não entendemos porque algumas coisas acontecem... E às vezes achamos que entendemos porque tudo está como está.... Mas tenhamos a idade que tivermos, nunca saberemos de verdade...
Se sentando na areia, aos pés da cadeira da boa senhora, ele perguntou:
- Como é seu nome?
- Maria da Paz.
- A senhora tem um nome muito bonito!
- Quando eu tinha a sua idade, achava que era nome de gente velha...
- Mas tem um significado importante a senhora não acha?
- Tudo na vida tem meu filho! O que entendemos e o que não entendemos!
- E quando não entendemos o significado, o que fazemos?
- Aquilo que é certo! Você cumpre o seu papel, não importa se você se sente mal com isso ou não... Você simplesmente aprende a fazer o que é certo e faz, mesmo que não entenda o significado... Mesmo que você esteja sofrendo... Ou que esteja feliz....
- Se tudo tem um significado, porque eu não entendo como as coisas chegaram ao ponto em que estão?
- Um dia você vai entender, e neste dia você vai pensar em como foi cego por não ter entendido... E aí, no outro dia, você vai achar que entendeu errado... Nunca dá pra ter certeza absoluta, mas se você sente que fez o que é certo, o resto não importa....
- Isso quer dizer que sendo culpa minha ou não, eu devo crescer e fazer o que é certo?
- É mais ou menos isso... É como a semente da flor, geneticamente você entende como ela germina, cresce e floresce, mas essa é a única razão dela estar lá? Provavelmente não. E mesmo que nunca entendamos as razões, sentimos que no fundo o correto é protegermos sua beleza, sua constituição frágil e indefesa. Não importa o que a levou a nascer e a crescer, ou melhor importa sim... Porque sem isso, ela não estaria ali, estaria?
- A senhora é bem cheia de metáforas não é?
Sorrindo de um modo conspiratório, ela perguntou:
- Quer saber uma coisa engraçada?
- O quê?
- Na sua idade eu nem sabia o que significavam as metáforas!
Dando o primeiro sorriso sincero do dia, Sam se levantou e disse que ia embora. Mas antes perguntou:
- A senhora mora aqui?
Apontando para uma casa branca do outro lado do asfalto, na praia do Cabo Branco ela respondeu:
- Sim! Logo ali...
- E por que a senhora veio falar comigo?
- Porque você parecia precisar disso...
- Engraçado, a senhora se chama Paz e estamos na praia do Cabo Branco...
- Você vê um significado nisso e eu vejo outro, mas mesmo com significados distintos, estamos aqui não é?
- É!
Apreciaram então um pouco o silêncio, e no momento de partir, Sam perguntou:
- Eu posso vir visitá-la?
- Sempre que quiser!
E ali, nasceu uma estranha amizade, entre uma humana completamente desconhecida, mas bem sábia, e um híbrido jovem e confuso, mas maduro e que não pretendia fugir dos seus problemas e deveres... E assim, o garoto caminhou pela calçada que havia percorrido, atravessou o asfalto e chegou ao McDonald´s onde Juanita, sua mãe, pacientemente o esperava para juntos seguirem o curso da vida que os aguardava..."

Continua...